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Poeta

Poeta é aquele capaz de converter
uma mirada verde em dous olhos de gato.
Poeta é aquele que dum sol-pôr faz ver
que lua, sol e mar fazem um triunvirato.

Poeta é aquele que sabe enobrecer
palavras vãs, baleiras, de falabarato.
Poeta é aquele que pode fazer ser
um mar onde perder-se os beiços que hoje cato,

uma escaleira ao céu esse teu par de pernas,
presente de Vénus o monte que o governa,
cova das maravilhas onde não dá o sol,

película de seda branca a que te envolve,
canto de sereia o gemido que me absolve,
o teu virgo quebrado pétalas de frol.

Lágrimas de sal

Sempre vês a garrafa mediada
das lágrimas de sal do coração
que choras por seres tão desgraçada
por não teres um príncipe azul cão.
Não sabes se subir ou se baixar,
não sabes se dormir ou acordar.

Queres um cavaleiro ou um truão?
Queres um trapaceiro ou um galão?
Queres um guerrilheiro ou um langrão?
Queres um libertino ou um deão?
Não sabes se esquecer ou se lembrar,
não sabes se saber ou ignorar.

As coitas para ti são má piada
dum deus ou desse karma tão cabrão
que falam nas revistas de carnada
e ultimamente na televisão.
Não sabes se sorrir ou se chorar,
não sabes se cuspir ou se tragar.

 

Não te pude conhecer

Por que te vás
se ainda não te pude conhecer?
Por que te vás
se ainda não te pude compreender?

Por que me deixas?
Por que calaste?
Por que não falas?
Por que te foste?

Diz-me

Diz-me que me amas,
diz-me que me queres.
Misteriosa dama
dona de prazeres.

A luz do sol

Que será este brilho claro?
Será o sorriso da Lua?
Será este o meu faro?
Será esta luz a sua?

Poderei ter nele emparo?
Escapar já da cafua?
E fugir do desamparo,
da penumbra fria e crua?

Tenho lágrimas nos olhos.
Não acredito na sorte
de ultrapassar os escolhos,

de ter topado o meu norte,
ter fugido dos abrolhos,
ter escapado da morte.

Trova V

Atravessou sem cuidado
desgarrando-me ao seu passo.
Já verei que cona faço
pra amanhar o estropiado.

Trova IV

Há sobre a terra um espelho
para ela se observar,
desde o céu acariciar
o seu rosto branco e velho.

Trova III

Quer absorver o calor,
enquanto à vida se aferra,
mas já dá sentido a dor
que a matará sobre a terra.

Trova II

Céu cinzento, está a chorar
nos dedos dos rumorosos
estendidos pra tocar
a paixão do glorioso.

Trova I

Noite sem lua, a chover,
águas silenciosas, frias,
aonde vão todas as rias,
aonde todas vão morrer.