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Archive for the ‘Canção’ Category

Ao Zeca Afonso

O dia em que eu nascim
ouvia-se ainda o eco
do berro, duro e seco,
de quando a tua vida
chegou devagar a seu fim.

Porque tu, Zeca, irmão,
fizeste com tua lembrança
uma canção de esperança
que evitou o teu final.

Serás lembrado no mar,
serás lembrado na terra.
Ouve-se ainda na mente
o eco do teu canto no ar.

Escrito entre 2007 e 2008

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Buscavidas

Tomei o barco na Crunha
sem saber o que ia topar,
chorando polo que estava a deixar.
Destino: “América”, punha.

Perdim a terra de visa
e paguei com cinco pesos
um sanduíche ressesso,
ou seja, menu de turista.

O lar em que m’eu criei
fica na Costa da Morte.
A terra onde morarei…
Isso depende da sorte.

Escrito entre 2007 e 2008

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Vint(e)

Chegam os vinte anos
E passa o tempo fugindo
Do ser, dos olhos, das mãos
Vai-se do corpo, ferindo

Mas ainda podo tomar
Força do meu interior
E ao vento poder cantar
Ainda um verso maior

Com o vento respirar
Fundir-me com as marés
Ou com a chuva chorar
Fico com uma das três

Ouvir do rosmar dos pinheiros
Co tato da erva sorrir
Perder-me por um carreiro
Topar-te quando os olhos abrir

Publicado originalmente em Maio de 2006
Baseado em
Ara que tinc vint anys de Joan Manuel Serrat


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Despedida

Bem raro e estranho,
seguro che parece,
que che escreva estas linhas,
quase não me conheces

Mas há quem diz que quando
se for um conhecido
havemos de estar juntos,
não ficar adormecidos

E como despedida
para estas breves linhas,
desejo muita sorte
e que isto te conforte,
que longe ou bem cerquinha
serás bem acolhida.

Publicado originalmente em Junho de 2005

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Cidade do saber

Eis uma pequena cidade
Cidade do saber, do pensamento
Dona de inquedanças
Procurava o conhecimento

As suas portas pechava
Se havia um pequeno problema
As grandes cidades vizinhas
Acusavam-na de blasfema

Estas, com o poder todo
Os que mandam, grosso modo
Ela, resistindo as ofensivas
Impassível, pensativa

Aguentando trevoadas
Suportando tempestades
Manifesta agressividade
Turbulentas arriadas

Mas ia chegar o dia
Em que a história acabaria
Mas ia o dia ter chegado
Em que a história tivesse finado

Não está escrito como foi
Cronista nenhum deixou palavra
Sabido é que não obra de herói
É assim que um futuro se lavra

Ainda que a história não acabou
A paz é mantida com grande esmero
E a calma ao país retornou
E as gentes em paz viverom

Publicado originalmente em Abril de 2005

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A estátua

Despertou na habitação
como outros dias passados
Bem pouca imaginação
pra um conto ter começado

Achegou-se a um espelho
pra a cara toda pintar
Os cabelos apartar
Pô-los juntos num arelho

Pôs um trapo como roupa
duas sandálias por sapatos
Da casinha saírom ratos
Semelhava uma cachoupa

Saiu já para a rua fria
pra o seu dinheiro ganhar
O trabalho consistia
em ergueito o tempo estar

E foi que durante esse dia
Passadas horas des’ que se pôs
O seu corpo qual estátua se dispôs
Não se moveu, não respondia

Saírom bágoas dos olhos
vendo-se tão impotente
Ter de sofrer os abrolhos
duma situação incoerente

Fica imóvel como um busto
como imagem quotidiana
Próximo a uma fontana
com o seu semblante adusto

Publicado originalmente em Abril de 2005

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Rebelião

Foram ambos os dous pastar
A vaca, o touro, devagar
O touro sempre a abafalhar
A vaca dixo que está cansa

Trabalho arreu pra leite dar
Mas isto um dia vai finar
Levo já um tempo a me cansar
E vou deixar de ser tão mansa

A novela dixo não
Que viva a revolução!

Um dia destes vou deixar
De vos dar cousas pra tomar
O leite agre vai estar
Não comereis os meus filhinhos

Não vai haver mais abstenção
Já é suficiente abnegação
Uma pequena aclaração
Podo morar cos meus vizinhos

A novela dixo não
Que viva a revolução!

Tu, bravo touro, escuita bem
Que quede claro: sou alguém
Estou já farta de desdém
E de sentir-me decaída

Que saibas que vou ir além
Do sentimento de fraquém
E não me vai parar ninguém
Quero viver a minha vida

A novela dixo não
Que viva a revolução!

Publicado originalmente em Abril de 2005
Baseado em
La Gallineta de Lluis Llach


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A vida

Um dia um moço como pessoa finou
A sua alma pra sempre triste, só, ficou
Assim era como sempre se viu el’
Pondo sentimentos apenas em papel

Renunciou a uma recuperação
Renunciou a tomar outros difíceis caminhos
Vendo-se sempre como abominação
Renunciou também a dar amor e carinho
Abandonou qualquer solução
Deu por sentado o mais triste destino

Uns pensam que demonstrou coragem
Outros, que sofria de profunda cegagem

A vida é um direito, dizia
Não uma obriga, insistia
Mas pra os que decidírom vivê-la
Mais singela podemos fazê-la

Publicado originalmente em Março de 2005

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Compostela

Canto-che nesta noite, Compostela
Canto a esta cidade, meu Santiago
Canto-che porque o meu coração te anela
Canto-che porque o meu coração tens roubado

Nas tuas ruas sinto-me bem
como na casa
No resto do mundo sou estrangeiro
não sei o quê se passa

Sinto o peso dos bardos das idades
que deixarom seu saber nas antigas faculdades
Sinto a vida dos regatos pequenos
que enchem de forças desde os velhos até os nenos

Ouvim berros nas tuas ruas
Exigindo liberdade
O povo desta terra tua
Exigindo dignidade

Se vires chover em Santiago
é dum homem que só pode chorar
Ainda que outros caminhos tomar
de ti sempre estará namorado

Publicado originalmente em Fevereiro de 2005

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O mar

Eis um moço marinheiro
por sangue auga de mar
que não tinha de seu terra
Semelhava sempre em guerra
vivendo sempre co luar
nesse seu barco pesqueiro

Seica de alma sempre estivo morto
Seica rosmava por tempos melhores
Não podia ficar em nenhum porto
Não podia desfrutar dos amores

O mocinho foi paciente
o tempo do mar finou
O nosso mar muda a gente
e ao final ao mar voltou

Publicado originalmente em Janeiro de 2005

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